Por Hélio Clemente
Notas Introdutórias
O presente artigo não pretende retratar nenhum tipo de revisão teórica
aprofundada sobre as expressões faciais e micro-expressões. Pretende-se aqui,
através de eixos temáticos breves e de fácil compreensão tanto para os
cientistas do comportamento quanto o público em geral, apresentar, os os
pressupostos gerais deste tema, que é ainda um campo pouco explorado pela
ciência do comportamento humano.
É importante realçar que as ilustrações usadas neste texto derivam de
textos e artigos pesquisados e de estudos originais em que os autores
disponibilizaram para uso.
Expressões Faciais
Expressões
faciais ocorrem quando os músculos da face funcionam em concerto, isto é, produzem
uma comunicação não verbal. Primordialmente, acreditava-se que se tratava de um
comportamento aprendido, no entanto, estudos psicológicos em tribos como Papua
em Nova Guine mostraram que as expressões faciais podem predizer emoções
universais (Ekman, 1999; APA, 2003).
O campo da
ciência que estuda a comunicação ou mensagens não verbais é geralmente designado
por “Body language”. O
pressuposto básico subjacente é que “a forma como os gestos são usados durante
a interacção interpessoal, apresenta um padrão específico que se liga a
sentimentos e emoções ou estados primitivos de instintos, e não são
necessariamente determinados pela cultura”.
As
micro-expressoes e o estudo das expressões faciais surgem neste domínio e pouco
a pouco vão se constituindo num domínio especifico de estudo do comportamento humano.
Contudo todas estas áreas incluem-se num campo maior de estudo, que é a linguagem
para-verbal, onde para além dos gestos, as posturas e expressões faciais,
as entonações e variações de tonalidades da voz são consideradas comunicativas.
Paul Ekman é um dos Investigadores mais proeminentes na área das expressões faciais
das emoções. Professor na Universidade de San Francisco, no Medical Psyquiatric
Institute, Ekman recebeu o seu PHD em Psicologia Clínica e foi considerado pela
Associação Americana de Psicologia, um dos 100 psicólogos mais importantes do
século XX (APA, 2003). Foi também eleito uma das 100 individualidades mais
influentes da actualidade segundo a revista NY Times. Ekman é ainda destacado
ainda pela consultoria cientifica à famosa série televisiva Lie to me da FOX,
onde o Grupo Lightman apresenta um
pouco da ciência e o trabalho do Paul Ekman
Group.
Emoções VS Expressões
faciais
A maioria dos
autores segundo Barlow e Durand (2008:61) concordam que a emoção é uma
tendência de acção impulsionada por um acontecimento externo (ex. ameaça), ou
por um estado de sentimento (ex. terror) acompanhada por uma possível resposta
psicológica (ex. Medo).
Estudos da
expressão das emoções iniciaram com Darwin (The expression of emotion in man
and animals) que foi o primeiro cientista a sugerir a universalidade das emoções básicas com base na
sua teoria da evolução, defendendo esta ser fruto do inatismo e produção
filogenética (Ekman, 1999).
As emoções
segundo Ekman são determinantes para a nossa qualidade de vida, e ocorrem em
todas as relações com as quais nos preocupamos: trabalho, amizades, negócios ou
relações mais íntimas. Elas podem salvar nossas vidas, mas podem ser muito
desastrosas. Em geral começam muito rapidamente que dificilmente a consciência
participa da sua expressão.
Expressão facial
das emoções
Tomkins,
colaborador de Ekman, conduziu um primeiro estudo onde descobriu que as
expressões faciais estão intimamente ligadas a certos estados emocionais
(Tomkins & McCarter, 1964). Ekman, posteriormente conduziu estudos em
vários países, que mostraram o reconhecimento de emoções básicas a partir da
observação de poses de expressões faciais, mesmo por culturas pré-literadas e
ainda casos de situações espontâneas, sugerindo então, a universalidade das
expressões faciais de emoções básicas (Ekman, 1972, 1973; Ekman & Friesen,
1971; Ekman, Sorenson, & Friesen, 1969; Izard, 1971;Ekman & Friesen,
1971; Ekman, et al., 1969).
Fontes das
emoções e expressões faciais
Sugere-se a
existência de fontes biológicas e genéticas na produção das expressões faciais
das emoções. Quando são despertadas espontaneamente até mesmo indivíduos cegos
congénitos produzem as mesmas expressões faciais que os normovisuais (Couve,
Jenkins, & Shott, 1989,; Galati, Miceli, & Sini, 2001; Galati, Sini,
Schmidt, & Tinti, 2003,; Matsumoto & Willingham, 2009).
A mesma musculatura
facial que existente em humanos adultos, existe em crianças recém-nascidas e é
completamente funcional desde o nascimento defende Ekman (Ekman & Oster,
1979) e está também presente em chimpanzés como já afirmava Darwin (Bardo,
2003,; Covas, Waller, Parr, & Bonar, 2006; Waal, 2003).
Micro-expressões
Estudos apontam
que quando as emoções acontecem e não há nenhuma razão para serem modificadas
ou escondidas, tipicamente duram entre 0.5 a 4 segundos e envolvem a face
inteira, sendo por isso chamadas de macro-expressões. Estas expressões são
relativamente fáceis perceber, se a pessoa (observador) souber o que procurar
(Ekman &Kaser, 2003). Por outro lado, micro-expressões são
expressões que entram a face de tempo em tempo em uma fracção de um segundo, às
vezes tão rápidas quanto 1/30 de um segundo. Podem passar despercebidas a
um piscar de olhos.
Micro-expressões
são sinais prováveis de emoções escondidas podendo também representar sinais de
processamento rápido segundo os estudos de Ekman. As micro-expressões são tão
breves que a maioria das pessoas “não treinadas” não consegue reconhecer em
tempo real.
Explicação
psiconeurológica
Pesquisas
neuro-anatómicas sobre expressões emocionais sugerem que existem dois caminhos
neurais que medeiam expressões faciais. Cada um que se origina em uma área diferente
do cérebro (Rinn, 1984). A área piramidal dirige acções faciais voluntárias e
liga-se na tira de motor cortical, considerando que a área de extrapiramidal
dirige expressões emocionais involuntárias e deriva de áreas subtropicais do
cérebro.
Quando os
indivíduos estão em situações intensamente emocionais mas precisam controlar as
suas expressões, activam-se ambos os sistemas (piramidal e extrapiramidal) causando
então uma “guerra neural” acima do controlo da face, permitindo o vazamento
rápido e passageiro de micro-expressões.
Alguns
Instrumentos produzidos para captar/identificar expressões faciais
Face Action
Encode System (FACS) – é um
manual guia técnico, detalhado, que explica como categorizar comportamentos
faciais baseado nos músculos que os produzem.
Os trabalhos de
Ekman tornaram-se tão populares que várias universidades de engenharias e
design de vários países, tem procurado desenvolver métodos sofisticados, de
estudar as micro-expressões através de criação de cámeras especiais ligadas ao
FACS e ainda em mostrar a simetria da face humana e das expressões faciais.
Sem dúvidas os
trabalhos de mais de 40 anos de pesquisa de Paul Ekman sobre expressões faciais
trazem para a comunidade científica de Psicologia e áreas afins que lidam com o
comportamento humano, várias contributos pertinentes e actuais. Nos EUA, as
técnicas de Ekman, tem sido usadas para aplicações clínicas: descoberta
de dor, monitoramento de depressão, e ajudando os indivíduos no espectro
autista. Tem sido ainda usado no mundo do negócio para comunicação e
marketing, vendas, cooperação e negociação. Na educação, professores
treinados em micro-expressoes são mais hábeis de podem ler as emoções dos
estudantes deles/delas para obter sugestões sobre o progresso das lições. Os
processos de avaliação psicológica e recrutamento são fortemente
avantajados com as técnicas de Ekman assessoradas pelo Ekman Group. Destacam-se
ainda as aplicações forenses destes conhecimentos que tem contribuído para a
melhoria da segurança pública, através do treinamento de redes policiais, de
segurança, de aeroportos e ainda de investigação criminal. Um último aspecto
que o grupo Paul Ekman International tem defendido nos seus trabalhos é que “conhecer
expressões faciais e ter a capacidade de identificar micro-expressoes torna-nos
mais aptos para lidar de uma forma mais racional com relações interpessoais”.
Notas finais
A face humana não é um campo arbitrário que produz acções e reacções
casuais, a ciência tem mostrado que existem padrões com significados
comunicativos muito fortes, que os técnicos do comportamento humano não podem
ignorar no seu trabalho. É preciso também a partir destes avanços científicos
buscar embasar a avaliação e o tratamento que o psicólogo faz da linguagem não verbal,
não pode ser uma questão negligenciada e a nível do senso comum, é preciso
tratar da questão com a objectividade que os avanços científicos têm mostrado
que ela merece.
Sem dúvidas a questão das expressões faciais das emoções traz uma discussão
com contornos éticos inevitáveis e precisa-se sempre contextualizar o conhecimento
produzido a cada realidade.
Sugestão para leitura
Paul Ekman
·
- Emotions revelead
· - Facial
expressions
· - Facial
expression of emotion
Darwin: emotions in man and animals
Nierenberg: Como
observar as pessoas
Referências
bibliográficas
Ekman, P. (2003).
Emotions revealed (2nd ed.). New York:
Times Books.
Ekman,
P. (Ed.). (1973). Darwin and facial
expression; a century of research in review. New York: Academic Press
David Matsumoto and Hyi Sung HwangScience
Brief: Reading facial expressions of emotion
Byhttp://www.apa.org/science/about/psa/2011/05/facial-expressions.aspx
P.
Ekman and E. Rosenberg. What the face reveals: Basic and applied studies of
spontaneous expression using the Facial Action Coding System (FACS). Oxford
University Press, USA, 1997. 2
Paul
Ekman. Facial Expressions. University of
California, San Francisco, CA, USA In Dalgleish, T., & Power, M.
(1999). Handbook of Cognition and
Emotion. New York: John Wiley & Sons Ltd.
Ekman,
P; Kelgtner, D. Facial expression of emotion, University os S. Francisco
Ekman,
P. (1980)Facial Sign of emotional experience. Journal of Personality and
Psychology.