quarta-feira, 29 de abril de 2015

Expressões faciais das emoções e micro-expressões: Potencialidades da Psicologia moderna para Moçambique

Hélio Clemente José Cuve[1]
Centro de Estudos e Apoio Psicológico – Universidade Eduardo Mondlane (CEAP-UEM)



Resumo
O presente artigo de revisão discute sobre a área de estudo do comportamento não-verbal focalizando o comportamento da face humana. O objectivo é explorar e motivar a aplicação da produção científica nesta área, como um contributo técnico actual que se adapta a promoção da saúde mental e diversos fins. Pesquisas sobre o comportamento facial são aplicadas desde o âmbito mais interno da Psicologia para a avaliação psicológica, monitoramento da depressão, processos de recrutamento de recursos humanos até em campos multidisciplinares na esfera de negócios, publicidade e marketing, treinamento de agentes de segurança, combate e prevenção do terrorismo, treinamento de delegados e inquiridores de polícia e ainda para melhorar a capacidade de gerir relações interpessoais.
Palavras-chave: Expressões faciais, Micro-expressões, Psicologia moderna, emoção.

Abstract
The present paper discusses about the topic of nonverbal communication focusing on facial behavior. The aim is to explore and motivate the application of this knowledge by Mozambican Psychologists as a modern contribute for the country needs. Facial expression research can be applied from the inside scope of Psychology for psychological assessment, monitoring of Depression disorder, recruiting human resources, to multi-disciplinary fields such as business sphere, publicity, marketing, security agents training, anti-terrorism, training police inquiries and also to train emotion management for interpersonal relations.
Key words: Facial expressions, micro-expressions, Modern Psychology, emotion.
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1.      Introdução
O estudo científico do comportamento humano é uma tarefa complexa, as técnicas para aceder o outro desdobram-se para abarcar as mais diversas formas de expressão do ser humano, contudo, nenhuma técnica é cabal em si para captar a complexidade da comunicação humana e das diferenças comportamentais subjacentes aos indivíduos que tomam parte desta interacção.
Em Psicologia é incontestavelmente importante reconhecer e compreender os significados das mensagens comportamentais manifestados verbalmente ou de outra forma. É com base nestas mensagens, implícitas ou explícitas, que se pode intervir, orientar e decidir sobre o indivíduo.

A comunicação verbal perfaz apenas 7% da comunicação humana, na realidade, 93% da comunicação humana ocorre de forma não-verbal, através das posturas corporais, expressões faciais, micro-expressões (SBLDD, 2012). Por isso, é pertinente questionar se os profissionais que procuram compreender o outro, estarão a captar toda informação necessária para esse fim? Até que ponto as diversas barreiras que afectam o comportamento verbal expressivo interferem nas mensagens que circulam? Este trabalho focaliza nos quase 23% de sinais da comunicação humana que nos chegam através das expressões da face humana.

Resultados de mais de 40 anos de pesquisa mostram evidências que tornam mais objectivas as interpretações a respeito do comportamento não-verbal, ajudando os Psicólogos, médicos, líderes e outros profissionais a melhorarem os seus skills na busca de compreensão do outro no seu trabalho. Busca-se discutir neste artigo fundamentos de pesquisa derivados de trabalhos de Paul Ekman[i], considerado o maior psicólogo estudioso do comportamento facial, com mais de 40 anos de pesquisa documentada em mais de 14 publicações de livros e centenas de artigos (Paul Ekman Group [PEG], 2014a; Paul Ekman International [PEI], 2014).

Pretende-se que este artigo de revisão seja um ponto de partida para motivar pesquisa e aplicação do conhecimento sobre a linguagem corporal em particular das expressões faciais das emoções, na comunidade moçambicana. Considerando um contributo actual da Psicologia para a promoção de saúde mental e emocional e uma ferramenta comportamental que pode contribuir para diversas áreas e necessidades do país como a educação, no direito, segurança pública e gestão organizacional. Os objectivos que nortearam a pesquisa de revisão para este artigo são: (a) Discutir às evidências da cientificidade das pesquisas sobre as expressões faciais das emoções como um campo de estudo; (b) explicar o conceito de micro-expressões; (c) elucidar a importância do conhecimento sobre as expressões faciais; (d) apresentar as potencialidades de aplicação deste conhecimento em Moçambique.

2.      Materiais e métodos
Para a elaboração deste artigo foi usada a metodologia de pesquisa bibliográfica nos moldes concebidos pela APA (2010) de forma a recolher documentos e informações relevantes publicadas ou não sobre o assunto. Foram descarregados artigos, livros, vídeos, jornais, relatórios de pesquisa, dissertações, fotos e entrevistas a partir da biblioteca de base de dados de Paul Ekman Group (PEG) e Paul Ekman International (PEI) reconhecidos como os distribuidores oficiais e creditados dos trabalhos de Ekman. Foram igualmente considerados trabalhos científicos julgados importantes redirecionados a partir destas bases de dados.
Procura-se nos tópicos a seguir, apresentar os resultados da revisão feita, o panorama geral teórico em que se insere o discurso sobre as expressões faciais e os contornos multidisciplinares da sua prática.

3.      Expressões faciais Vs. Emoções: Da teoria de Darwin a evidência de pesquisa.
Uma das formas de compreender o comportamento humano é através da linguagem corporal associada a comunicação verbal, e mais especificamente o comportamento da face humana. As pesquisas evidenciam propriedades particulares e uma simetria própria da face humana (Bettadapura, SD; New York Times, 2003), que permitem através veicular várias informações e afectos (Pfister, Li, Zhao & Pietik¨ainen, 2014; PEG, 2014a; Matsumoto & Hwang, 2011). Os escritos nesta temática são concordantes sobre a importância das expressões faciais que permitem efectuar trocas relacionais, sinalizar emoções, emitir sinais sexuais, em suma, formam um componente fortemente identitário de uma pessoa (MHIWGE, SD; PEG, 2014a; Ekman, Friesen & Ancoli, 1980.p.1125).

Charles Darwin propôs o que quase um século depois veio a ser confirmado pelas pesquisas de Ekman, sugerindo que as emoções humanas tinham expressões faciais universais, não apenas transculturais, como também partilhadas com outras espécies animais (Ekman, 1992:169; 1999:2; 1998, 2014). Testando empiricamente estas hipóteses pesquisas Ekman mostrou a evidência da intrínseca relação existente entre o comportamento da face humana e as emoções (Matsumoto & Hwang: 2011; PEG, 2014a; Bettadapura, SD; Pfister, et al, 2014; (Ekman, 1999; PEG, 2014a; Ekman, Sda; Matsumoto & Hwang, 2011; IIS, 2004).
Estudos transculturais incluindo culturas pré-literadas de África (como Nova Guiné)[ii] realizados por Ekman e colaboradores avaliaram o reconhecimento de expressões faciais pousadas, e deste modo foi produzida a evidência da universalidade de sete emoções, consideradas por isso básicas: raiva, medo, tristeza, desgosto, desprezo, surpresa e alegria (PEG, 2014; Ekman, SDa; Ekman, 1999; TSBLDD, 2008; NYT, 2003). Estes estudos foram replicados em mais de 22 países e viriam a contradizer a concepção corrente dominante da Antropologia, defendida por Margaret Mead[iii] (Ekman, 1999; PEG, 2014; BBC, 2011; Ekman, 1999; PEG, 2014; Matsumoto & Hwang: 2011).

As descobertas sobre a face humana abrem um horizonte vasto de novas possibilidades para a investigação do comportamento humano, para exploração e compreensão dos significados emocionais do comportamento facial. A maioria dos autores segundo Barlow e Durand (2008:61) concorda que a emoção é uma tendência de acção impulsionada por um acontecimento externo (Pe. ameaça), ou por um estado de sentimento (Pe. terror) acompanhada por uma possível resposta psicológica (Pe. medo).

Numa perspectiva evolutiva defende-se que as mesmas são benéficas para vida do homem e estão directamente ligadas sobrevivência humana como propunha Darwin (Darwin, 1872; Ekman, 1997). É nesta neste prisma que se percebe que as pessoas podem nunca fazer sexo devido ao medo, podem morrer de fome se não tiverem um fornecedor alimentar e não sentirem a necessidade e a força de arranjar uma forma de sobreviver (Ekman, 2005), portanto, as emoções tanto podem ser desastrosas como benéficas para o homem (Ekman, 1997, 1998, 1999a, 1999b).

As expressões faciais das emoções básicas, consideradas universais são provavelmente inatas, diferente dos gestos que são parte da linguagem corporal e culturalmente determinados. No entanto, percebe-se que cada cultura tem sua influência na forma como as pessoas irão expressa-las e gerir. Os estudos transculturais de Ekman apontaram por exemplo que estudantes Japoneses mostram maior inibição para expressar certas emoções “desagradáveis” quando estão em presença de uma figura de autoridade, diferente dos estudantes americanos. É preciso ainda ressalvar que existem emoções que não têm sinais faciais específicos (Ekman, Sda; 1980, 1999).


Figura 1: Evidências da universalidade das expressões faciais das emoções básicas. Retirado de Ekman (1999) e PEG (2014)

4.      A luta por um método objectivo: O sistema de codificação das unidades de acção da face (FACS)
As evidências da universalidade das expressões faciais das emoções abriram um novo campo de possibilidades para a pesquisa sobre o comportamento não-verbal, no entanto, precisava-se de uma forma objectiva de explorar e comunicar esse conhecimento, era necessário ter-se um método que oferecesse aos cientistas comportamentais uma linguagem comum e um padrão objectivo de medição do comportamento em causa. Foi desta forma que Ekman e Friesen iniciaram uma das maiores empreitadas da pesquisa sobre o comportamento facial e construíram o primeiro instrumento que permite a análise e descrição objectiva dos movimentos dos músculos da face humana (Donato, Bartlett, Hager, Ekman, Sejnowski, 1999).



Figura 2: Mapeamento dos músculos da face (retirado de Cohn & Ekman, 2005:37).


O Facial Action Coding System (FACS) permite medir toda expressão facial ou comportamento facial visível, e não apenas acções que presumivelmente podem estar relacionadas a uma emoção. O instrumento distingue 44 unidades de acção, estas que são as unidades mínimas anatomicamente identificadas nos movimentos faciais (Donato, Bartlett, Hager, Ekman, Sejnowski, 1999; Cohn & Ekman, 2005:37). Este facto por si serve de recurso á avaliação da “espontaneidade” de uma expressão facial, analisando o tempo de reacção, duração e os músculos envolvidos na expressão, pode-se obter pistas para a sua interpretação. Obviamente, é preciso considerar outros factores que possam justificar as alterações do comportamento da face humana.

Existem, duas descobertas importantes ligadas a construção do FACS, a primeira, e que contribui para a interpretação do comportamento facial e detecção de fraudes (mentiras) é que existem músculos da face que não podem ser voluntariamente manipulados (Lansley, 2014; Ekman, Friesen, & Ancoli, 1980). A segunda descoberta, é que o acto de mimetizar uma expressão facial de uma emoção activa um processo fisiológico correspondente a tal emoção (Ekman, SDb; PEG, 2014a; Hall et al, 2005; NYTIMES, 2003). A validação desta hipótese, pode abrir um novo campo de intervenções e técnicas de treinamento de gestão emocional, e numa larga escala pode ser aplicado não apenas em setings terapêuticos mas também para a criação de programas de promoção de bem-estar emocional das pessoas no geral.


Figura 3: Algumas das unidades de acção facial superiores e inferiores (extraído de Vinay Bettadapura)


5.      Micro-expressões: revelando fraudes e emoções escondidas
“A mentira é uma característica tão central na vida, que um melhor conhecimento desta será relevante para a compreensão de quase todos os comportamentos humanos” (Ekman, 1985.p.85).
Ao contrário das macro-expressões como as pousadas e reconhecidas nos estudos transculturais, as micro-expressões são expressões faciais muito rápidas que duram apenas uma fracção de segundo. Estas últimas foram inicialmente descritas em psicoterapia com pacientes depressivos, onde propôs-se que as mesmas ocorrem quando as pessoas têm sentimentos reprimidos (escondidos de si) ou quando de forma deliberada tentam esconder seus sentimentos dos outros (supressão), contudo, não se pode dizer pela expressão em si, quando se trata de repressão ou supressão (PEG, 2014; Ekman, 1992; Ekman, 1999).
Pesquisas realizadas testando a capacidade de reconhecer estes sinais, mostraram que quase 99% da população não consegue identificar estes sinais, incluindo grupos de profissionais que se podia esperar terem alguma habilidade neste sentido, como psicólogos, psiquiatras, polícias, uma excepção é geralmente feita a agentes de segurança secreta, que apresentaram melhores resultados. No entanto, Ekman e Friesen mostraram que com um treinamento é possível reconhecê-las em tempo real (PEG, 2014a; Lansley, 2014b).
Fisiologicamente, micro-expressões representam sinais de stress, isto é, quando o sistema cognitivo e emocional entram em um conflito neural, dando lugar a evasão de manifestações físicas breves. Isto acontece, por exemplo, quando a pessoa não acredita no que diz, ou sente algo diferente do que mostra (Ekman, SDc, Ekman, 1999; Ekman, 2014a). Uma experiência realizada com estudantes universitários nos EUA mostrou evidências de evasão de micro- expressões na tentativa de esconder emoções desagradáveis ligadas a experiência (Ekman, Sdc; Ekman, Sdd; Lansley, 2014, PEG, 2014c).

A forma tradicional para a detecção de fraudes e ou mentiras[iv], baseia-se na tortura e intimidação, que em contrapartida gera respostas fisiológicas de stress, e existe sempre um risco de errar e provocar danos ao sujeito avaliado (Lansley, 2014a).
A produção científica mostra que a preocupação com a detecção de fraudes não é nova. O polígrafo é um instrumento concebido para a “detecção de mentiras”, através da avaliação da tensão e pulsação dos dedos que se mostram ser bons indicadores para a medição do stress fisiológico. Deste modo, alterações no ritmo desta tensão e pulsação tomadas como linha de base significariam sinais de elevação de stress (associado a mentira), activando-se deste modo uma pequena descarga como um estímulo desagradável (punição). Contudo, as reacções fisiológicas ao teste em si são consideradas problemáticas, pelo que a sua validade é questionável (Lansley, 2014; Ekman, 1992; Ekman, 1997).
Os humanos por sua vez são considerados a melhor ferramenta para a detecção da fraude (mentira). 

Estudos e estatísticas mostram que quando treinados, alcançam até 90% de acurácia para detectar sinais de fraude observando respostas fisiológicas que se presumem estar associadas a manifestação de emoções (Ekman, 2014a; Lansley, 2014; Matsumoto & Hwang, 2011). A falta de espontaneidade nas expressões, hesitação de voz, resistência da pele, e outros indícios, representam sinais fisiológicos mensuráveis que estão associados ao contraste cognição e emoção (Lansley, 2014; Cohn & Ekman, 2005; Ekman, 1992).

2.      Importância do conhecimento das expressões faciais das emoções
Reconhecer expressões faciais das emoções e micro-expressões, reveste-se de grande importância para a compreensão das relações interpessoais, gestão intrapessoal e para o desenvolvimento de inteligência emocional e empatia (Ekman, SDc; PEG, 2014a).Uma pesquisa de Helen Reiss e cols. mostrou que a habilidade de reconhecimento das emoções através de breves expressões faciais resulta em melhores índices de classificação de empatia reportada pelos pacientes do grupo de estudo em relação ao grupo de controlo (PEG, 2014a; RIESS et al, 2012).
O treinamento em expressões faciais aumenta também a consciência interna das emoções, permitindo reconhecer quando nos tornamos emocionalmente  vulneráveis,  e este modo uma melhor gestão  da expressão das emoções (PEG, 2014a; HALL et al, 2005).

3.      Expressões faciais e micro-expressões aplicação no mundo real
O conhecimento sobre expressões faciais têm aplicação prática multidisciplinar, todo o grupo de esferas profissionais onde se faz importante ter a capacidade de ler os estados emocionais dos outros pode se beneficiar destes conhecimentos para avaliação psicológica, rastreamento de criminosos tanto em comunidades como em aeroportos, prevenção de terrorismo, detecção de fraudes em entrevistas e ou inquéritos policiais, apoio e avaliação clínica, terapia de casal, marketing  e vendas, pesquisa e indústria televisiva (PEG, 2014a; Matsumoto & Hwang, 2011; Alexa et al, 2013).
Discute-se a seguir com algum detalhe algumas das aplicações que podem ser implementadas no contexto moçambicano:
A)    Treinamento de polícia, inquiridores e questões criminais: fraudes carregam muitas vezes expressões emocionais acrescidas em comparação a situações normais (micro-expressões). Contudo, as micro-expressões não dizem em si se o sujeito está a mentir, mas podem apontar incongruências entre aquilo que é dito e aquilo que é experienciado emocionalmente pelo indivíduo. Agentes de segurança e oficiais de polícia dos EUA, Portugal, Brasil, UK, e vários outros países, têm nos seus módulos de treinamento, capacitação em reconhecimento de micro- expressões e linguagem corporal (PEG, 2014; Frank, 2005).
Este conhecimento pode ser de grande valia treinamento de agentes de garante da ordem e segurança pública, considerando a explosão de acções criminosas de sequestros contra civis no país, estas técnicas podem auxiliar o trabalho de avaliação e monitoramento comportamental (Pe. em patrulhas, inquéritos).
B)    Profiling nos aeroportos: várias universidades de tecnologias desenvolveram com base nos estudos de Ekman, sistemas de tracking e controle de expressões faciais que permitem monitorar suspeitos de terrorismo, narcotráfico e outros. Agentes de segurança de aeroportos são também treinados a identificar esses indícios através de observação directa da linguagem corporal e das expressões faciais em particular (Fonseca, 2013; PEG, 2014; Frank, 2005). O que pode ser tomado como uma norma de prevenção de crimes organizados e reforço de segurança, principalmente considerando as precauções internacionais recomendadas após os atentados de 11 de Setembro.
C)    Profissionais de saúde: podem desenvolver melhores rapports com pacientes, interagindo de forma mais humana, empática e com compaixão, o que contribui para realização de diagnósticos mais acertados, através da obtenção de informações mais completas (PEG, 2014; 2005; Riess et al, 2012).
D)    Linguagem não-verbal na educação: os aspectos cruciais da interacção estudante- professor são não-verbais (BABAD, 2005:283). Professores podem ler as expressões faciais de seus estudantes para obter sugestões sobre o progresso da lição e planejar um processo mais efectivo. Do mesmo modo, gestores escolares que lêem emoções dos seus professores estão mais aptos a reduzir o burnout destes e incrementar a efectividade dos mesmos (PEG, 2014a; Matstumoto & Hwang, 2011).
E)    Desenvolvimento de social skills (aptidões sociais) para populações especiais: indivíduos do espectro autista se têm beneficiado enormemente com o treino de micro-expressões através do SEET (subtl expression trainning tool). Assim como indivíduos com esquizofrenia tendem a aumentar a capacidade de reconhecer emoções nos pares normais (Riess, et al, 2012; Marsh et al, 2012).
F)     Avaliação psicológica e médica: estudos de Ekman evidenciaram a presença de micro- expressões em gravações de entrevistas terapêuticas de pacientes depressivos que intentaram o suicídio após receberem alta (PEG, 2014a; Alexa et al, 2013). Stuart (2005: 313) lembra que a maior parte das psicopatologias do DSM IV (Manual for Diagnostic and Statist of Mental Disorders) estão ligadas a algum tipo de alteração emocional (APA, 1994).

4.      Considerações finais
Faz-se necessário que o conhecimento sobre o comportamento não-verbal e as expressões faciais em particular seja tratado de forma mais objectiva pela comunidade científica, em particular pelos currículos de Psicologia em Moçambique. Pois, estudar o comportamento não-verbal não é nenhuma tendência sensacionalista em Psicologia, é sim, uma tendência de pensar numa Psicologia para “aplicação real no mundo real” na busca de compreensão do outro. As expressões faciais não podem mais ser tratadas no plano do senso comum, ignorando os sinais objectivos que a relação complexa entre a cognição e a emoção permite evidenciar através da face.
Actualmente existem cursos, módulos, softwares de treinamento e outros instrumentos (PEG, 2014a)  que  permitem  que  psicólogo  ou  (outro  profissional)  desenvolva  a  capacidade  de objectivamente analisar sinais emocionais presentes na face. Julgamos ser pertinente incorporar estes conhecimentos de mais de quatro décadas de pesquisa nos currículos nacionais de Psicologia em disciplinas como Técnicas de observação e entrevista psicológica, Psicoterapia, Psicopatologia e avaliação psicológica. Isto não só permitirá incrementar o perfil de habilidades do graduando em Psicologia (que deve ser interventivo na realidade do país) como também aliado a pesquisa e reflexão, permitirá a projecção de novas oportunidades de actuação do psicólogo moçambicano, acrescendo o valor do contributo da Psicologia para as necessidades da sociedade.
Por último, é preciso acautelar-se que o interesse pelas expressões faciais em Psicologia não seja movido em si pelo desejo de desvendar fraudes, ou intenções similares que podem chocar com a ética da profissão, mas sim, pelo objectivo máximo que se acredita que a Psicologia deve prover, o balanço emocional. Portanto é importante perceber porquê temos emoções, que exercícios podem melhorar a vida emocional das pessoas e como podemos reconhecer emoções nos outros (PEG, 2014a).



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Notas de Fim



[1]
Hélio Clemente José Cuve – É investigador associado ao Centro de Estudos e Apoio Psicológico (CEAP) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). É Licenciado em Psicologia, vertente de Psicologia Escolar Necessidades Educativas Especiais. Exerce prática clínica no centro e dedica-se a pesquisas de temas e métodos de aplicação transversal em Psicologia em particular de avaliação comportamental.





[i] Paul Ekman é professor emérito do Instituto de Psiquiatria da Escola Médica da Universidade de São Francisco, recebeu seu PHD em Psicologia Clínica. Foi também eleito um dos 100 psicólogos mais importantes do século XX pela American Psychological Association (APA) e é considerado pela NY Times uma das 100 figuras mais influentes no mundo e com vários prémios de distinção científica (PEG, 2014; Matsumoto & Hwang, 2011; TSBL, 2008; Jütten, 2012; Lansley, 2014; APA, 2003; Bettadapura, SD).
[ii] Assumia-se que estas culturas que não poderiam ter apreendido as expressões faciais da televisão nem do contacto massivo com estrangeiros, sendo naquela altura, ainda uma cultura da “idade da pedra”.
[iii]Mead defendia que as expressões faciais eram culturalmente determinadas e que diferiam de cultura para cultura. Esta concepção era consensulamente aceite pela comunidade científica que rejeitava a visão de Darwin até as evidências dos estudos transculturais de Ekman.
[iv] Ekman define mentira ou fraude como uma pretensão de mal informar outrem, fazendo-o deliberadamente, sem uma notificação a prior deste fim e sem ter pedido explicitamente para faze-lo. Os tipos de mentira podem ser Segundo Ekman (1992): esconder e falsificar. A pessoa esconde quando mantém uma informação omissa sem necessariamente dizer algo falso. Na falsificação acrescenta-se uma informação não verdadeira.