Hélio Clemente José Cuve[1]
Centro
de Estudos e Apoio Psicológico – Universidade Eduardo Mondlane (CEAP-UEM)
Resumo
O presente artigo de revisão
discute sobre a área de estudo do comportamento não-verbal focalizando o
comportamento da face humana. O objectivo é explorar e motivar a aplicação da
produção científica nesta área, como um contributo técnico actual que se adapta
a promoção da saúde mental e diversos fins. Pesquisas sobre o comportamento
facial são aplicadas desde o âmbito mais interno da Psicologia para a avaliação
psicológica, monitoramento da depressão, processos de recrutamento de recursos
humanos até em campos multidisciplinares na esfera de negócios, publicidade e
marketing, treinamento de agentes de segurança, combate e prevenção do
terrorismo, treinamento de delegados e inquiridores de polícia e ainda para
melhorar a capacidade de gerir relações interpessoais.
Palavras-chave: Expressões faciais, Micro-expressões, Psicologia moderna, emoção.
Abstract
The present paper discusses about the topic
of nonverbal communication focusing on facial behavior. The aim is to explore
and motivate the application of this knowledge by Mozambican Psychologists as a
modern contribute for the country needs. Facial expression research can be
applied from the inside scope of Psychology for psychological assessment,
monitoring of Depression disorder, recruiting human resources, to multi-disciplinary
fields such as business sphere, publicity, marketing, security agents training,
anti-terrorism, training police inquiries and also to train emotion management
for interpersonal relations.
Key words: Facial
expressions, micro-expressions, Modern Psychology, emotion.
1.
Introdução
O estudo científico do
comportamento humano é uma tarefa complexa, as técnicas para aceder o outro
desdobram-se para abarcar as mais diversas formas de expressão do ser humano,
contudo, nenhuma técnica é cabal em si para captar a complexidade da comunicação
humana e das diferenças comportamentais subjacentes aos indivíduos que tomam parte
desta interacção.
Em Psicologia é incontestavelmente
importante reconhecer e compreender os significados das mensagens comportamentais
manifestados verbalmente ou de outra forma. É com base nestas mensagens, implícitas
ou explícitas, que se pode intervir, orientar e decidir sobre o indivíduo.
A comunicação verbal
perfaz apenas 7% da comunicação humana, na realidade, 93% da comunicação humana
ocorre de forma não-verbal, através das posturas corporais, expressões faciais,
micro-expressões (SBLDD, 2012). Por isso, é pertinente questionar se os profissionais
que procuram compreender o outro, estarão a captar toda informação necessária
para esse fim? Até que ponto as diversas barreiras que afectam o comportamento
verbal expressivo interferem nas mensagens que circulam? Este trabalho focaliza
nos quase 23% de sinais da comunicação humana que nos chegam através das
expressões da face humana.
Pretende-se que este artigo
de revisão seja um ponto de partida para motivar pesquisa e aplicação do conhecimento
sobre a linguagem corporal em particular das expressões faciais das emoções, na
comunidade moçambicana. Considerando um contributo actual da Psicologia para a
promoção de saúde mental e emocional e uma ferramenta comportamental que pode
contribuir para diversas áreas e necessidades do país como a educação, no
direito, segurança pública e gestão organizacional. Os objectivos que nortearam
a pesquisa de revisão para este artigo são: (a) Discutir às evidências da
cientificidade das pesquisas sobre as expressões faciais das emoções como um
campo de estudo; (b) explicar o conceito de micro-expressões; (c) elucidar a
importância do conhecimento sobre as expressões faciais; (d) apresentar as
potencialidades de aplicação deste conhecimento em Moçambique.
2.
Materiais e métodos
Para a elaboração deste
artigo foi usada a metodologia de pesquisa bibliográfica nos moldes concebidos
pela APA (2010) de forma a recolher documentos e informações relevantes
publicadas ou não sobre o assunto. Foram descarregados artigos, livros, vídeos,
jornais, relatórios de pesquisa, dissertações, fotos e entrevistas a partir da
biblioteca de base de dados de Paul Ekman Group (PEG) e Paul Ekman
International (PEI) reconhecidos como os distribuidores oficiais e creditados
dos trabalhos de Ekman. Foram igualmente considerados trabalhos científicos julgados
importantes redirecionados a partir destas bases de dados.
Procura-se nos tópicos a
seguir, apresentar os resultados da revisão feita, o panorama geral teórico em
que se insere o discurso sobre as expressões faciais e os contornos
multidisciplinares da sua prática.
3.
Expressões faciais Vs.
Emoções: Da teoria de Darwin a evidência de pesquisa.
Uma das formas de compreender
o comportamento humano é através da linguagem corporal associada a comunicação
verbal, e mais especificamente o comportamento da face humana. As pesquisas
evidenciam propriedades particulares e uma simetria própria da face humana
(Bettadapura, SD; New York Times, 2003), que permitem através veicular várias
informações e afectos (Pfister, Li, Zhao & Pietik¨ainen, 2014; PEG, 2014a; Matsumoto & Hwang, 2011). Os escritos nesta temática são
concordantes sobre a importância das expressões faciais que permitem efectuar
trocas relacionais, sinalizar emoções, emitir sinais sexuais, em suma, formam
um componente fortemente identitário de uma pessoa (MHIWGE, SD; PEG, 2014a;
Ekman, Friesen & Ancoli, 1980.p.1125).
Charles Darwin propôs o
que quase um século depois veio a ser confirmado pelas pesquisas de Ekman, sugerindo
que as emoções humanas tinham expressões faciais universais, não apenas
transculturais, como também partilhadas com outras espécies animais (Ekman, 1992:169;
1999:2; 1998, 2014). Testando empiricamente estas hipóteses pesquisas Ekman
mostrou a evidência da intrínseca relação existente entre o comportamento da
face humana e as emoções (Matsumoto & Hwang: 2011; PEG, 2014a; Bettadapura, SD; Pfister, et al, 2014; (Ekman, 1999; PEG, 2014a;
Ekman, Sda; Matsumoto & Hwang, 2011; IIS, 2004).
Estudos transculturais incluindo
culturas pré-literadas de África (como Nova Guiné)[ii] realizados
por Ekman e colaboradores avaliaram o reconhecimento de expressões faciais
pousadas, e deste modo foi produzida a evidência da universalidade de sete
emoções, consideradas por isso básicas: raiva, medo, tristeza, desgosto,
desprezo, surpresa e alegria (PEG, 2014; Ekman, SDa; Ekman, 1999; TSBLDD, 2008;
NYT, 2003). Estes estudos foram replicados em mais de 22 países e viriam a
contradizer a concepção corrente dominante da Antropologia, defendida por
Margaret Mead[iii]
(Ekman, 1999; PEG, 2014; BBC, 2011; Ekman, 1999; PEG, 2014; Matsumoto & Hwang: 2011).
As descobertas sobre a face
humana abrem um horizonte vasto de novas possibilidades para a investigação do
comportamento humano, para exploração e compreensão dos significados emocionais
do comportamento facial. A maioria dos autores segundo Barlow e Durand
(2008:61) concorda que a emoção é uma tendência de acção impulsionada por um
acontecimento externo (Pe. ameaça), ou por um estado de sentimento (Pe. terror)
acompanhada por uma possível resposta psicológica (Pe. medo).
Numa perspectiva evolutiva
defende-se que as mesmas são benéficas para vida do homem e estão directamente
ligadas sobrevivência humana como propunha Darwin (Darwin, 1872; Ekman, 1997). É
nesta neste prisma que se percebe que as pessoas podem nunca fazer sexo devido
ao medo, podem morrer de fome se não tiverem um fornecedor alimentar e não
sentirem a necessidade e a força de arranjar uma forma de sobreviver (Ekman,
2005), portanto, as emoções tanto podem ser desastrosas como benéficas para o
homem (Ekman, 1997, 1998, 1999a, 1999b).
As expressões faciais
das emoções básicas, consideradas universais são provavelmente inatas,
diferente dos gestos que são parte da linguagem corporal e culturalmente
determinados. No entanto, percebe-se que cada cultura tem sua influência na
forma como as pessoas irão expressa-las e gerir. Os estudos transculturais de
Ekman apontaram por exemplo que estudantes Japoneses mostram maior inibição
para expressar certas emoções “desagradáveis” quando estão em presença de uma
figura de autoridade, diferente dos estudantes americanos. É preciso ainda
ressalvar que existem emoções que não têm sinais faciais específicos (Ekman,
Sda; 1980, 1999).
Figura 1: Evidências da
universalidade das expressões faciais das emoções básicas. Retirado de Ekman
(1999) e PEG (2014)
4.
A luta por um método
objectivo: O sistema de codificação das unidades de acção da face (FACS)
As evidências da
universalidade das expressões faciais das emoções abriram um novo campo de
possibilidades para a pesquisa sobre o comportamento não-verbal, no entanto,
precisava-se de uma forma objectiva de explorar e comunicar esse conhecimento,
era necessário ter-se um método que oferecesse aos cientistas comportamentais
uma linguagem comum e um padrão objectivo de medição do comportamento em causa.
Foi desta forma que Ekman e Friesen iniciaram uma das maiores empreitadas da
pesquisa sobre o comportamento facial e construíram o primeiro instrumento que
permite a análise e descrição objectiva dos movimentos dos músculos da face
humana (Donato, Bartlett, Hager, Ekman, Sejnowski, 1999).
Figura 2: Mapeamento dos músculos da face (retirado de Cohn
& Ekman, 2005:37).
O Facial Action Coding System (FACS) permite medir toda expressão
facial ou comportamento facial visível, e não apenas acções que presumivelmente
podem estar relacionadas a uma emoção. O instrumento distingue 44 unidades de
acção, estas que são as unidades mínimas anatomicamente identificadas nos
movimentos faciais (Donato, Bartlett, Hager, Ekman, Sejnowski, 1999; Cohn &
Ekman, 2005:37). Este facto por si serve de
recurso á avaliação da “espontaneidade” de uma expressão facial, analisando o
tempo de reacção, duração e os músculos envolvidos na expressão, pode-se obter
pistas para a sua interpretação. Obviamente, é preciso considerar outros factores
que possam justificar as alterações do comportamento da face humana.
Existem, duas
descobertas importantes ligadas a construção do FACS, a primeira, e que
contribui para a interpretação do comportamento facial e detecção de fraudes (mentiras)
é que existem músculos da face que não podem ser voluntariamente manipulados
(Lansley, 2014; Ekman, Friesen, & Ancoli, 1980). A segunda descoberta, é
que o acto de mimetizar uma expressão facial de uma emoção activa um processo
fisiológico correspondente a tal emoção (Ekman, SDb; PEG, 2014a; Hall et al, 2005; NYTIMES, 2003). A validação
desta hipótese, pode abrir um novo campo de intervenções e técnicas de
treinamento de gestão emocional, e numa larga escala pode ser aplicado não
apenas em setings terapêuticos
mas também para a criação de programas de promoção de bem-estar emocional das
pessoas no geral.
Figura 3: Algumas das unidades de acção facial superiores e
inferiores (extraído de Vinay Bettadapura)
5. Micro-expressões: revelando fraudes e emoções escondidas
“A mentira é uma característica tão central na
vida, que um melhor conhecimento desta será relevante para a compreensão de
quase todos os comportamentos humanos” (Ekman, 1985.p.85).
Ao contrário das macro-expressões como as pousadas e reconhecidas nos
estudos transculturais, as micro-expressões
são expressões faciais muito rápidas que duram apenas uma fracção de
segundo. Estas últimas foram inicialmente descritas em psicoterapia com pacientes
depressivos, onde propôs-se que as mesmas ocorrem quando as pessoas têm
sentimentos reprimidos (escondidos de si) ou quando de forma deliberada tentam
esconder seus sentimentos dos outros (supressão), contudo, não se pode dizer
pela expressão em si, quando se trata de repressão ou supressão (PEG, 2014; Ekman,
1992; Ekman, 1999).
Pesquisas realizadas
testando a capacidade de reconhecer estes sinais, mostraram que quase 99% da
população não consegue identificar estes sinais, incluindo grupos de profissionais
que se podia esperar terem alguma habilidade neste sentido, como psicólogos,
psiquiatras, polícias, uma excepção é geralmente feita a agentes de segurança
secreta, que apresentaram melhores resultados. No entanto, Ekman e Friesen mostraram
que com um treinamento é possível reconhecê-las em tempo real (PEG, 2014a;
Lansley, 2014b).
Fisiologicamente, micro-expressões representam sinais de stress,
isto é, quando o sistema cognitivo e emocional entram em um conflito neural,
dando lugar a evasão de manifestações físicas breves. Isto acontece, por
exemplo, quando a pessoa não acredita no que diz, ou sente algo diferente do
que mostra (Ekman, SDc, Ekman, 1999; Ekman, 2014a). Uma experiência realizada
com estudantes universitários nos EUA mostrou evidências de evasão de micro-
expressões na tentativa de esconder emoções desagradáveis ligadas a experiência
(Ekman, Sdc; Ekman, Sdd; Lansley, 2014, PEG, 2014c).
A forma tradicional para a detecção
de fraudes e ou mentiras[iv],
baseia-se na tortura e intimidação, que em contrapartida gera respostas
fisiológicas de stress, e existe
sempre um risco de errar e provocar danos ao sujeito avaliado (Lansley, 2014a).
A produção científica mostra que
a preocupação com a detecção de fraudes não é nova. O polígrafo é um
instrumento concebido para a “detecção de mentiras”, através da avaliação da
tensão e pulsação dos dedos que se mostram ser bons indicadores para a medição
do stress fisiológico. Deste modo, alterações
no ritmo desta tensão e pulsação tomadas como linha de base significariam
sinais de elevação de stress
(associado a mentira), activando-se deste modo uma pequena descarga como um
estímulo desagradável (punição). Contudo, as reacções fisiológicas ao teste em
si são consideradas problemáticas, pelo que a sua validade é questionável (Lansley,
2014; Ekman, 1992; Ekman, 1997).
Os humanos por sua vez são considerados a melhor
ferramenta para a detecção da fraude (mentira).
Estudos e estatísticas mostram
que quando treinados, alcançam até 90% de acurácia para detectar sinais de
fraude observando respostas fisiológicas que se presumem estar associadas a
manifestação de emoções (Ekman, 2014a; Lansley, 2014; Matsumoto & Hwang, 2011). A falta de espontaneidade nas expressões,
hesitação de voz, resistência da pele, e outros indícios, representam sinais
fisiológicos mensuráveis que estão associados ao contraste cognição e emoção
(Lansley, 2014; Cohn & Ekman, 2005; Ekman, 1992).
2.
Importância do
conhecimento das expressões faciais das emoções
Reconhecer expressões faciais das emoções e
micro-expressões, reveste-se de grande importância para a compreensão das
relações interpessoais, gestão intrapessoal e para o desenvolvimento de
inteligência emocional e empatia (Ekman, SDc; PEG, 2014a).Uma pesquisa de Helen
Reiss e cols. mostrou que a habilidade de reconhecimento das emoções através de
breves expressões faciais resulta em melhores índices de classificação de
empatia reportada pelos pacientes do grupo de estudo em relação ao grupo de
controlo (PEG, 2014a; RIESS et al, 2012).
O treinamento em expressões
faciais aumenta também a consciência interna das emoções, permitindo reconhecer
quando nos tornamos emocionalmente vulneráveis, e este modo uma
melhor gestão da expressão das emoções (PEG, 2014a; HALL et al, 2005).
3.
Expressões faciais e
micro-expressões aplicação no mundo real
O conhecimento sobre expressões faciais têm aplicação prática
multidisciplinar, todo o grupo de esferas profissionais onde se faz importante
ter a capacidade de ler os estados emocionais dos outros pode se beneficiar
destes conhecimentos para avaliação psicológica, rastreamento de criminosos
tanto em comunidades como em aeroportos, prevenção de terrorismo, detecção de
fraudes em entrevistas e ou inquéritos policiais, apoio e avaliação clínica, terapia
de casal, marketing e vendas, pesquisa e indústria televisiva (PEG,
2014a; Matsumoto & Hwang, 2011; Alexa et
al, 2013).
Discute-se a seguir com
algum detalhe algumas das aplicações que podem ser implementadas no contexto
moçambicano:
A)
Treinamento de polícia, inquiridores e questões criminais: fraudes carregam
muitas vezes expressões emocionais acrescidas em comparação a situações normais
(micro-expressões). Contudo, as micro-expressões não dizem em si se o sujeito
está a mentir, mas podem apontar incongruências entre aquilo que é dito e
aquilo que é experienciado emocionalmente pelo indivíduo. Agentes de segurança
e oficiais de polícia dos EUA, Portugal, Brasil, UK, e vários outros países,
têm nos seus módulos de treinamento, capacitação em reconhecimento de micro-
expressões e linguagem corporal (PEG, 2014; Frank, 2005).
Este conhecimento pode ser de grande valia treinamento de agentes de
garante da ordem e segurança pública, considerando a explosão de acções
criminosas de sequestros contra civis no país, estas técnicas podem auxiliar o
trabalho de avaliação e monitoramento comportamental (Pe. em patrulhas,
inquéritos).
B)
Profiling nos aeroportos: várias universidades de
tecnologias desenvolveram com base nos estudos de Ekman, sistemas de tracking
e controle de expressões faciais que permitem monitorar suspeitos de
terrorismo, narcotráfico e outros. Agentes de segurança de aeroportos são
também treinados a identificar esses indícios através de observação directa da
linguagem corporal e das expressões faciais em particular (Fonseca, 2013; PEG,
2014; Frank, 2005). O que pode ser tomado como uma norma de prevenção de crimes
organizados e reforço de segurança, principalmente considerando as precauções internacionais
recomendadas após os atentados de 11 de Setembro.
C)
Profissionais de saúde: podem desenvolver melhores rapports com pacientes,
interagindo de forma mais humana, empática e com compaixão, o que contribui
para realização de diagnósticos mais acertados, através da obtenção de
informações mais completas (PEG, 2014; 2005; Riess et al, 2012).
D)
Linguagem não-verbal na educação: os aspectos cruciais da interacção
estudante- professor são não-verbais (BABAD, 2005:283). Professores podem ler
as expressões faciais de seus estudantes para obter sugestões sobre o progresso
da lição e planejar um processo mais efectivo. Do mesmo modo, gestores
escolares que lêem emoções dos seus professores estão mais aptos a reduzir o burnout
destes e incrementar a efectividade
dos mesmos (PEG, 2014a; Matstumoto & Hwang, 2011).
E)
Desenvolvimento de social skills (aptidões sociais) para populações
especiais: indivíduos do espectro autista se têm beneficiado
enormemente com o treino de micro-expressões através do SEET (subtl expression trainning
tool). Assim como indivíduos com esquizofrenia tendem a aumentar a
capacidade de reconhecer emoções nos pares normais (Riess, et al, 2012;
Marsh et al, 2012).
F)
Avaliação psicológica e médica: estudos de Ekman evidenciaram a presença de micro- expressões em
gravações de entrevistas terapêuticas de pacientes depressivos que intentaram o
suicídio após receberem alta (PEG, 2014a; Alexa et al, 2013). Stuart (2005: 313) lembra que a maior parte das
psicopatologias do DSM IV (Manual
for Diagnostic and Statist of Mental Disorders) estão ligadas a
algum tipo de alteração emocional (APA, 1994).
4.
Considerações finais
Faz-se necessário que o conhecimento sobre o comportamento não-verbal e as
expressões faciais em particular seja tratado de forma mais objectiva pela
comunidade científica, em particular pelos currículos de Psicologia em
Moçambique. Pois, estudar o comportamento não-verbal não é nenhuma tendência
sensacionalista em Psicologia, é sim, uma tendência de pensar numa Psicologia
para “aplicação real no mundo real” na busca de compreensão do outro. As
expressões faciais não podem mais ser tratadas no plano do senso comum,
ignorando os sinais objectivos que a relação complexa entre a cognição e a
emoção permite evidenciar através da face.
Actualmente existem cursos,
módulos, softwares de treinamento e outros instrumentos (PEG, 2014a)
que permitem que psicólogo ou (outro
profissional) desenvolva a capacidade de
objectivamente analisar sinais emocionais presentes na face. Julgamos ser pertinente
incorporar estes conhecimentos de mais de quatro décadas de pesquisa nos
currículos nacionais de Psicologia em disciplinas como Técnicas de observação e
entrevista psicológica, Psicoterapia, Psicopatologia e avaliação psicológica.
Isto não só permitirá incrementar o perfil de habilidades do graduando em
Psicologia (que deve ser interventivo na realidade do país) como também aliado
a pesquisa e reflexão, permitirá a projecção de novas oportunidades de actuação
do psicólogo moçambicano, acrescendo o valor do contributo da Psicologia para
as necessidades da sociedade.
Por último, é preciso
acautelar-se que o interesse pelas expressões faciais em Psicologia não seja
movido em si pelo desejo de desvendar fraudes, ou intenções similares que podem
chocar com a ética da profissão, mas sim, pelo objectivo máximo que se acredita
que a Psicologia deve prover, o balanço emocional. Portanto é importante
perceber porquê temos emoções, que exercícios podem melhorar a vida emocional
das pessoas e como podemos reconhecer emoções nos outros (PEG, 2014a).
Referências bibliográficas
BETTADAPURA,Vinay (SD). Face Expression Recognition and Analysis: The
State of the Art. Georgia Institute of Technology. Disponível em: http://www.google.co.mz/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CCAQFjAA&url=http%3A%2F%2Farxiv.org%2Fpdf%2F1203.6722&ei=PBD_U7WuLY3Y4QTByYDICg&usg=AFQjCNHBWA94d_2W1a-tUx5wg31VPaSe4w&bvm=bv.74035653,d.bGE&cad=rja
COHN,
JeVrey F.& EKMAN,. Paul. (2005). Measuring facial action. Disponível a 10 de Agosto
de 2014 em: http://www.pitt.edu/~jeffcohn/biblio/Coan%20013%20chap13.pdf
DONATO, Gianluca., BARTLETT, Marian., HAGER, Joseph C., EKMAN, Paul and SEJNOWSKI,
Terrence. (1999). Classifying Facial Actions. Ieee transactions on pattern
analysis and machine intelligence, 21(10). Disponível a 14 de Agosto de 2014
em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/summary?doi=10.1.1.8.991
DAVIS,
Janine., ALTREEN Piemme, KAREN., Dillon, CAROLINE., and TWIRBUTT, Suzanne.
Macrovariables in affective expression in women with breast cancer
participating in support groups. In A. Harrigan, Robert Rosenthal, Klaus R.
Scherer (Eds), Series in affective science: The new handbook of methods in
nonverbal behavior research (pp: 399-448). SPI Publisher Services, Pondicherry:
India.
MATSUMOTO, D.. & Hyi
Sung Hwang. Science Brief:
Reading facial expressions of emotion http://www.apa.org/science/about/psa/2011/05/facial-expressions.aspx.
DARWIN, C. (1965). The expression of the
emotions in man and animals. Chicago: University of Chicago Press. (Original
work published 1872)
ELISHA, Babad. (2005). Nonverbal behavior in
education. In A. Harrigan, Robert Rosenthal, Klaus R. Scherer (Eds), Series in
affective science: The new handbook of methods in nonverbal behavior research
(pp: 283-312). SPI Publisher Services, Pondicherry: India.
EKMAN, P.
(Ed.). (1973). Darwin and facial expression; a century of research in review.
New York: Academic Press. https://www.paulekman.com/wp-content/uploads/2013/07/Facial-Expression.pdf
EKMAN, Paul., FRIESEN, Wallace., & ANCOLI,
Sonia. (1980). Facial Sings of Emotional Experience. Joprnal of Personality and
Social Psychology.39(6), 1125-1134) disponível em 14 de Agostp de 2014 em http://psycnet.apa.org/index.cfm?fa=buy.optionToBuy&uid=1981-25797-001
EKMAN, Paul (1992). Telling Lies: Clues to
Deceit in the Marketplace, Politics, and Marriage.W W - Norton & Company -New York-London.
EKMAN,
P. (1980). Facial Sign of emotional experience. Journal of Personality and
Psychology. Disponível a 10 de Julho
de 2014 em: https://www.paulekman.com/wp-content/uploads/2013/07/Facial-Sign-Of-Emotional-Experience.pdf
EKMAN, P. and ROSENBERG, E. (1997). What the
face reveals: Basic and applied studies of spontaneous expression using the
Facial Action Coding System (FACS). Oxford University Press, USAEkman., Paul. (1999). Facial Expressions.In
Dalgleish, T., & Power, M, Handbook of Cognition and Emotion.New
York: JohnWiley & Sons Ltd.
EKMAN, P. (1997). Lying and deception. In
Stein, N., Ornstein, P., Tversky, B., Brainerd (eds), memory for everyday and
emotional events. C. LEA Publisshers, New Jersey.
EKMAN,
P. (1998). Universality of emotional expression: a history of dispute. Oxford
University press
EKMAN,
P; Kelgtner, D. (1998). Facial expression of emotion, University os S. Francisco.
In M. Lewis & J Haviland-Jones (eds). Handbook of emotions, 2nd edition
(pp: 235-249). Guildford publications, New York.
EKMAN, Paul. (1999a). Facial Expressions.In Dalgleish, T., & Power, M. (Eds).Handbook
of Cognition and Emotion. New York: John Wiley & Sons Ltd.
EKMAN,
(1999b).Basic emotions.In Dalgleish, T., & Power, M. (Eds).Handbook of
Cognition and Emotion. (pp: 44-60).New
York: John Wiley & Sons Ltd
EKMAN,
P. (2003). Emotions revealed
(2nd ed.). New York: Times Books.
Institute of International Studues. (2004).
face to face the science of reading faces part 1: conversation in history With
Paul Ekman). University Of California.Berkeley disponívem em https://www.youtube.com/watch?v=6uABMfsUFls
Ekman,
P. (SDd). Mastering Emotions, with Paul Ekman Big Think Mentor. Disponívekl em https://www.youtube.com/watch?v=WQxvXinTUPA
Frank , Mark. (2005). Research methods in detecting
deception research. In A. Harrigan, Robert Rosenthal, Klaus R. Scherer (Eds),
Series in affective science: The new handbook of methods in nonverbal behavior
research (pp: 34`1-398). SPI Publisher Services, Pondicherry: India
Hall, Judith A., Bernieri, Frank.,&
Carney, Dana. (2005). Nonverbal behavior
and interpersonal sensitivity. In A. Harrigan, Robert Rosenthal, Klaus R.
Scherer (Eds), Series in affective science: The new handbook of methods in
nonverbal behavior research (pp:237-282). SPI Publisher Services, Pondicherry:
India
KRING,
Ann., And STUART, Barbara. (2005). Nonverbal behavior and psychopathology. In
A. Harrigan, Robert Rosenthal, Klaus R. Scherer (Eds), Series in affective
science: The new handbook of methods in nonverbal behavior research (pp:
313-340). SPI Publisher Services, Pondicherry: India
JANINE A. Carbone. (SD) LIE TO ME: Based on the
Studies of Paul Eckman, Submitted by Rochester Institute of Technology
JÜTTEN,
Linda (2012). Psychopathy and Facial Expressions of Emotions: Processing,
Recognizing and Mimicking. Bachelor thesis in cognitive neuroscience.Department
Medical Psychology and Neuropsychology, Section Cognitive Neuroscience, Tilburg
University disponívem a 15 de Julho de 2014 em: http://arno.uvt.nl/show.cgi?fid=122772
LANSLEY,
Clliff. (2014). Animals don’t Lie: But all humans do. PEGroup. Disponível em: http://www.emotional-intelligence-academy.com/facial-expressions-of-emotions-are-not-culturally-universal/
LANSLEY,
Clliff. (2014). Lie to me. Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=RnwdndsspTIMatsumoto, David., e
Hwang, Hyi. (2011).
Science Brief:
Reading facial expressions of emotion: Basic research leads to training programs
that improve people’s ability to detect emotions. Psychological
Science Agenda
Mind and Hearth. 3 of 5 useful things to know
about emotions: interview with Dr Paul Ekman By Lili Shimamoto and Alex Avery
(Video) disponível em https://www.youtube.com/watch?v=vdUZQmZfMzY
PAUL EKMAN GROUP. (2014a).
Micro Expressions. Disponível á 14 de Julho
de 2014 em http://www.paulekman.com/micro-expressions/
PAUL EKMAN GROUP. (2014b).
Universality of facial expressions. Disponível
á 14 de Julho de 2014 em http://www.paulekman.com/
PAUL
EKMAN GROUP. (2014c). Research and materials Disponível á 14 de Julho de 2014
em http://www.paulekman.com/
PFISTER,
Tomas.,LI, Xiaobai., ZHAO, Guoying.,EAINEN, MattiPietik (SD).Recognising Spontaneous Facial
Micro-expressions.Machine Vision Group, Department of Computer Science
and Engineering,.University of Oulu, Finland. Disponível à 16 de Julho de 2014 em: http://tomas.pfister.fi/files/pfister11microexpressions.pdf
Notas de Fim
[1]
Hélio Clemente José Cuve – É investigador associado ao Centro de Estudos e Apoio Psicológico (CEAP) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). É Licenciado em Psicologia, vertente de Psicologia Escolar Necessidades Educativas Especiais. Exerce prática clínica no centro e dedica-se a pesquisas de temas e métodos de aplicação transversal em Psicologia em particular de avaliação comportamental.
Hélio Clemente José Cuve – É investigador associado ao Centro de Estudos e Apoio Psicológico (CEAP) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). É Licenciado em Psicologia, vertente de Psicologia Escolar Necessidades Educativas Especiais. Exerce prática clínica no centro e dedica-se a pesquisas de temas e métodos de aplicação transversal em Psicologia em particular de avaliação comportamental.
[i] Paul Ekman é professor emérito do Instituto de Psiquiatria da Escola Médica
da Universidade de São Francisco, recebeu seu PHD em Psicologia Clínica. Foi
também eleito um dos 100 psicólogos mais importantes do século XX pela American
Psychological Association (APA) e é considerado pela NY Times uma das 100
figuras mais influentes no mundo e com vários prémios de distinção científica
(PEG, 2014; Matsumoto &
Hwang, 2011;
TSBL, 2008; Jütten, 2012; Lansley, 2014; APA, 2003; Bettadapura, SD).
[ii] Assumia-se que estas culturas que
não poderiam ter apreendido as expressões faciais da televisão nem do contacto
massivo com estrangeiros, sendo naquela altura, ainda uma cultura da “idade da
pedra”.
[iii]Mead defendia que as expressões
faciais eram culturalmente determinadas e que diferiam de cultura para cultura.
Esta concepção era consensulamente aceite pela comunidade científica que
rejeitava a visão de Darwin até as evidências dos estudos transculturais de
Ekman.
[iv] Ekman define
mentira ou fraude como uma pretensão de mal informar outrem, fazendo-o
deliberadamente, sem uma notificação a prior deste fim e sem ter pedido
explicitamente para faze-lo. Os tipos de mentira podem ser Segundo Ekman
(1992): esconder e falsificar. A pessoa esconde quando mantém uma informação
omissa sem necessariamente dizer algo falso. Na
falsificação acrescenta-se uma informação não verdadeira.